segunda-feira, 27 de abril de 2009

Cativeiro cinza (poesia reeditada)

As pessoas ao meu redor são frias, pálidas e mudas.
Mudas de pensamento.
Cegas de discurso.
Há um senso torto, obscuro, recalcado – um grito sem som – imagem flagelada; um rasgo, uma chaga.
Gesto sem tom – um timbre, um vulto – traição dos sentidos.
Os instantes passam com o vagar das horas, são grandes os detalhes que são fáceis de se enxergar a olho nu.
A gente é uma só.
Os passos são invisíveis, não há rastro de beleza.
Um trabalho duro de levar.
Seguir nessa estrada barulhenta e cinza se torna pesado para os meus pés.
Plantas murcham – nem cacto sobrevive.
Janela trancada para o amanhã.
Raios de sol negados pelo blackout da prisão dos ideais.
A cabeça já possui um peso extra – fardo.
Somos máquinas de chorar e perecer.
Odor forte no ar.
Enxofre, carniça, solidão.
Papéis, tinta e pouca cor.
A tristeza é um dos pingentes desse lugar que mais é uma torre de arranha-céu e não tem janelinhas para o futuro.
Uma árvore infinita sem raízes.
Pessoas se penduram em seus enormes e infinitos galhos de labuta.
Enfeites sem brilho.
Dois meses e algo mais para pintar o futuro com outros matizes.
Um dia vou embora para um jardim das cores que eu inventar; misturas minhas, meu jeito, meu toque.
Lúdico mais do que real.
Findo aqui meu desabafo.
Um dia após o outro.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Viagem

No meu sonho a vida é algo mais do que a felicidade; é o encontro e o desencontro, é o medo e a bravura, a lua e o sol.
Ao abrir a janela do meu quarto avisto um grande campo florido e minhas mil faces despetaladas num jogo de dominó.
Uma atrás da outra desmoronando até chegar a minha real máscara.
Minha face rubra de vergonha. Como sou tola!
Avisto ao longe um balanço de cordas e me projeto ao vai-e-vem de um mar revolto, grudado ao céu, com minhas milhares de estrelas brilhantes tilintando e cintilando meu caminho até o meu tesouro: seu coração.
Isso é só um sonho. Minha realidade crua não me permite deitar e gozar os devaneios.
Sou mais que uma, sou muitas de mim em uma multidão.
Vejo-me vestida com todas as possíveis cores, vejo-me num salão dançando valsa com meus botões.
Encontro do sozinho com o solitário.
Agora sou só eu contando meus carneirinhos.
Acorda, é só um sonho!

domingo, 19 de abril de 2009

Confissões, ternura e suspiros

Palavras ao vento.
Promessas, alento.
Terno, tenro, telepático gesto de carinho.
Vejo vultos de você num quarto escuro.
Pinto meus sentidos nas cores mais belas da minha aquarela.
Risco seus traços na tela, meu amor.
Vejo-me em você como se num espelho houvesse um outro eu.
Sorte e revés.
Canto para chamar meus desejos mais íntimos pra dançar.
Dois prá lá, dois pra cá, sempre atropelando meus pés.
Corda bamba, um sorriso.
Viajo pelo litoral quente da sua boca.
Sorriso tropical, frescor da manhã.
Um sopro, um selo, um sabiá cantarolando minha serenata pra você.
Sinto seu perfume no tempo.
Tic-tac, tic-tac, eu sou você amanhã.
Um telefonema, um suspiro.
Sinto seu perfume no vento.
Um aviso, um sinal, meu amor de ontem, hoje, amanhã.
Te vejo nos meus olhos; pupila dilatante, ardente, incoerente.
Penso não, digo sim.
Um rock frenético na minha cabeça latejando e espremendo meus pensamentos.
Afunilo-me num túnel sem saída.
Labirinto.
Mil finais felizes, mil verdades, solidão.
Solução.
Só você.
Sou eu.
Somos um.
Meus segredos escondidos nas brechas dos meus olhos.
Selados, lacrados, autenticados em seu nome.
Sinto seu cheiro nos meus dias de chuva.
Na calçada molhada brotam flores dos seus passos.
O ácido do teu olhar corrói meus cílios... Cega-me os olhos.
Minhas vistas cerram por causa do clarão do seu sorriso.
O mais belo de todos.
O único ao qual devoto meu tão raro apreço, meu carinho.
Gostar de ti é viver cada dia de um jeito.


Natalia Seixas Pereira
19.04.09

terça-feira, 7 de abril de 2009

Consciência

Para que o dia seja pleno teremos que trabalhar juntos e arduamente. Precisaremos ser jovens para saber o que é viver, como cantar. Precisaremos aprender a chorar e a dizer “eu te amo”, mas não somente fazê-lo de forma que se pense que com tal gesto já se conquistou o mundo, e sim, a partir desse gesto, aprender a retribuir – não com palavras parecidas ou iguais, mas com atitudes, lágrimas, se preciso, e com plena consciência que o mundo é belo e o dia é mais um degrau nessa nossa meta de elevação de espírito.
Você lerá cartas de amor em sua caminhada pela vida, fará coisas nobres ao próximo, surpreenderá a quem duvida de sua força e perseverança e então entenderá que a vida é um filme baseado num roteiro escrito por você, e somente, dirigido e atuado por você e, principalmente, sujeito a alterações que só você poderá realizar.
Uma vez olhei-me no espelho e vi alguém cujos sonhos são pilares que sustentam sua vida. Baixei os olhos e voltei a olhar para dentro de mim. Vi-me sem máscaras, desprovida de escuridão... Vi-me como outrora havia visto, acrescida a um pouco mais de humanidade e amor por mim.
Acredito que o mundo foi feito para ser moldado e lapidado, a fim de fazermos dele um bom lugar para se viver. Todos os que vivem nele são responsáveis pela manutenção de sua beleza, simbolização de uma união. Cada um deve a si o prazer de viver plena, digna e intensamente. Apenas dizer palavras bonitas não é o bastante, amar, sim, talvez seja.
Somos iguais. Seguindo juntos faremos um novo caminho.

(25.12.2005)