sábado, 23 de maio de 2009

Nostalgia do não vivido

Cores, muitas cores se transformam em música e coelhos pulam com pé de mola no grande jardim lá fora.
As nuvens fofinhas se aconchegam e cobrem o sol nos dias mais frios.
A lua conversa conosco e nos conta segredinhos em sussurros.
Telefone sem fio, conversa na janela.
Nostalgia dos dias frios e do chocolate quente da vovó.
Minha infância, que saudade!
De manhã saímos para um passeio de bicicleta pela rua.
Lugarejo mais tranquilo, que delícia é acordar e ouvir o canto dos pássaros, o ranger das janelas de madeira a serem abertas, sentir o cheirinho do café e do bolo de fubá saindo do forno.
Não sei que lugar é esse – me parece um refúgio, um sonho.
Minha Pasárgada, como almejo passar uns tempos e permanecer no deleite desses dias memoráveis, mágicos.
Calmaria...
Vamos pescar!
Vamos deitar numa rede e sonhar.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Antigo paraíso

Parece que acordei de um pesadelo.
Nele existia um mundo paralelo com garras que me levavam pra longe de você.
Intuições e vibrações me faziam sumir no túnel de fumaça.
Sombras saíam dos buracos escondidos e se grudavam na extensa parede de fumaça que nos separou.
Luzes, muitas luzes piscantes me cegavam e eu te perdia de vista.
Um movimento descoordenado e o desencontro me tontearam.
Perdi o tato.
Não sinto mais o toque da sua pele, dos seus lábios macios, meu paraíso se esvaiu.
Meu mundo paralelo, um Hades, um inferno.
Estaria eu escrava de viver a agonia, a impotência?
Sem você, meu amor, não há mais sorrisos sinceros, não há mais poesia, não mais haverá sintonia em nossos olhares.
À noite eu choro ao som da sua música preferida.
Estou presa e vejo você se afastando, num carro a toda, num carrossel descompassado, numa roda gigante que te lança pro mundo em que eu vivia.
No antigo mundo-casa, meu lar, antigo paraíso de você.
Agora a maçã está partida na mesa e o que me resta é passá-la para o papel com traços fortes de carvão.
O rabisco da maçã que se converte no seu rosto triste.
Um choro mudo.
Natureza morta, cinza, escura.
Parece-me que estar perto de ti é perigoso, proibido, impossível.
Como eu adoro, como eu desejo estar ao seu lado.
Meus olhos agora só fazem chorar.
Não se vá.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Chão de terra

O tempo passa.
A vida passa e a gente tenta ser feliz.
Pessoas passam do lado de fora da janela e somos cúmplices num olhar.
Sorrisos, raios de sol, zum-zum-zum de feira-livre.
Janela aberta, corpo presente, um batuque no dia de sábado.
Festa na rua!
Saudade do interior – chão de terra pra passar toda a gente animada.
Canto, fitas e cores.
É música.
É harmônico o quadro – são todos um.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Acordes da amizade

A rua em que eu moro vive sempre cheia de carros, cheia de pessoas, cheia de sentimentos.
Os meus ouvidos escutam sempre o mais belo som que vem do céu. Já sei! É da arpa dos arcanjos que vem essa linda canção!
Meus sentidos ficam cada vez mais apurados quando estou só num desses dias calmos...
Buscando luz, buscando ardor pela esperança sempre viva, nunca me deixando desfalecer nem esmorecer por causa da ausência... Ausência da presença dos que amo.
Ausência não existe para meu coração.
Nele estão vivos todos os acordes da música que mais gosto, o cheiro da maresia e do pôr-do-sol, o cheiro da amizade de que necessito tanto e o soar do anoitecer batendo à minha porta...
Busca incessante pelo amor preso nas caixinhas de música que pulsam dentro do peito dos meus entes, dos amigos, dos bichos...
Seres que de mim precisam e para mim são essenciais!
Seres que do mundo são partículas polinizadoras de amor.

Mar de argila

Por que meus olhos choraram naquela noite fria em que estávamos envolvidos pelo choro do vento?
Por que minha alma dorme e esconde-se em seus olhos?
Minha fuga.
Meu medo.
Meus sonhos de menina.
Como podem estar todos lá fora junto às árvores na noite fria?
As árvores cantam cantigas de roda.
Como pode ser sua minha melancolia?
Como pode o mar ser meu anfitrião? Minha casa é de chão!
A casa-mar em que me hospedei é tão fresca...
Procuro um templo, uma resposta.
Meu peito chora.
Minha alma tem pálpebras de veludo para que eu possa acariciar seu coração com o olhar.
Por que sabem os deuses que sou terra? Por que não fingem saber que sou mar?
Ai, vida de sombra! As palavras são pequenas bolhas salgadas, o ardor do pranto seca minhas lágrimas de maresia.
Conheço o senhor das ondas!
Descansei meu corpo fatigado de tanto que nadei! Minha cama é de conchas, meu travesseiro de pérolas.
Os deuses sabem que sou da terra, porque minhas lágrimas são de argila.

(29.09.2005)